Brasil tem menor emissão de gases-estufa em 20 anos

Brasil tem menor emissão de gases-estufa em 20 anos. Em 2012, o Brasil emitiu a menor quantidade de gases-estufa em 20 anos: 1,48 bilhão de toneladas de carbono equivalente. A redução se deu principalmente devido à diminuição do desmatamento na Amazônia.

No período entre 1990 e 2012, as emissões brasileiras cresceram 7% –bem abaixo da média mundial, que foi de 37%, chegando ao nível recorde de 52 bilhões de toneladas de carbono equivalente.

Os números são de uma iniciativa inédita para estimar a quantidade de gases-estufa emitida no Brasil. Lançado nesta sexta-feira, o Seeg (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa) é um esforço do Observatório do Clima, um coletivo de ONGs ligadas ao meio ambiente que se debruçou sobre os dados mais recentes sobre o tema no país.

Até agora, as informações sobre as emissões brasileiras nunca foram muito claras. O Brasil não faz parte do grupo de países que é obrigado a oferecer anualmente um inventário com esses números.

O governo tem fornecido esses dados sem uma periodicidade definida, algo que os ambientalistas consideram insuficiente. O primeiro inventário é de 2005 e, o segundo, de 2010. Em 2013, o governo fez uma atualização da série histórica.

“Nesses inventários oficiais, havia uma defasagem grande entre a divulgação dos dados e o período a que eles se referem”, avalia Tasso de Azevedo, um dos responsáveis pelo projeto.

A estimativa foi feita seguindo critérios científicos do IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU), usando algoritmos e cálculos de cruzamento de informações oficiais e dados de acesso aberto. O conteúdo está disponível gratuitamente na internet.

“O inventário não quer substituir [os números oficiais], mas nos dá uma boa fotografia de como estamos atualmente”, diz Carlos Rittl, coordenador do Seeg no Observatório do Clima.

ALERTA

Apesar de o Brasil responder por apenas 2,8% das emissões globais de carbono e do nível mais baixo dessa participação em 2012, os responsáveis pelo relatório alertaram: a tendência é que as emissões voltem a subir.

Historicamente, o desmatamento tem sido o grande vilão nas emissões brasileiras, respondendo por mais de 60% do total. Com sua redução, no entanto, cresce a participação das outras fontes de emissão.

Segundo o relatório, há nos outros setores “uma nítida tendência de aumento de emissões”. A subida mais participativa foi no setor energético, que aumentou suas emissões em 126% entre 1990 e 2012.

O Brasil ainda tem boa parte de sua matriz energética baseada em energias renováveis, mas, segundo o relatório, essa “zona de conforto” está se reduzindo, conforme aumenta a participação de fontes “sujas” de geração de energia, como as termelétricas.

Os processos industriais e a as emissões ligadas à questão de resíduos também tiveram altas significativas: 65% e 64%, respectivamente. A agropecuária subiu 45%.

“Hoje, o modelo de desenvolvimento brasileiro ainda não é baseado num modelo de baixo carbono”, avalia Rittl.

OBRIGAÇÕES

Os números foram divulgados às vésperas da COP 19 (convenção do clima da ONU), que começa na semana que vem em Varsóvia, na Polônia, e deve ajudar a pautar as discussões brasileiras.

Pelo último acordo climático, o Brasil, como país em desenvolvimento, não tem uma meta obrigatória de redução. O país, no entanto, fixou um objetivo voluntário de redução: 36,1% em relação às projeções de emissões para 2020.

A comunidade internacional está atualmente em um momento de transição para um novo acordo climático e novas metas de emissões. Ele deve ser assinado em 2015, na conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas de Paris, para começar a valer em 2020.

O conteúdo do acordo, no entanto, ainda é motivo de muita discussão. No protocolo de Kyoto, o compromisso anterior, países em desenvolvimento não tinham metas obrigatórias de redução. Agora, com o aumento da industrialização e o consequente incremento das emissões dessas nações, há uma pressão crescente para que também elas sejam obrigadas a ter objetivos fixados de redução.

A maioria dos países em desenvolvimento é contra essa posição, argumentando que isso frearia a economia e o progresso. Eles ressaltam que as nações ricas, por terem poluído e emitido gases-estufa sem controle para seu próprio progresso desde a revolução industrial, devem ter metas mais rígidas.

Fonte: Folha de São Paulo